quinta-feira, 18 de junho de 2015



Banzé da luz 

Salmo do sol, de manhã 
A lua toda, alvorada 
No mundo mora a cunhã 
Banzé da luz, madrugada 

Batuque, banzo brejeiro 
Estouro, estalo, estalido 
Cantiga, fogo e pandeiro 
Batuta, brado, bramido 

No labirinto do ouvido 
Faz festa do seu lamento 
Fanfarra a pele e o zunido 
Lampeja a todo momento 



A primeira versão dessa letra, fiz a partir do incentivo da Tereza Virgínia de Almeida, que além de ser minha cantora preferida, é também (sorte a minha) orientadora de doutorado. 

Na ocasião, ela estava compondo uma série de canções que estarão no seu próximo e terceiro disco, em parceira com o violonista Júlio Córdoba. Aquele Banzé nascedouro ficou inconcluso, pois acabei criando outra letra, "A luz e a voz", mais afinada ao som delicado e denso de plurissignificações do trabalho da dupla. A música ficou linda. 

Eis que alguns meses depois recebi um convite do Frederico Alabarse para criar uma letra para o novo disco da FairyCats, uma banda que une influências dos quatros ventos para compor música do mundo. Eis que saiu há pouco o novo álbum no qual se pode ouvir esse maracatu desentranhado, lá em Paris, da minha letrinha. 

A FairyCats nasceu do encontro de Frederico Alabarse e Irina Guldt, que uniram suas melodias e harmonias com gosto de Brasil e de Leste Europeu à percussão gravada por Douglas Marcolino, Paulo Madureira, Leonardo Pereira, Wendell Bara, Damien Lecchi e Erik Moura. 

Estou pegando gosto por esse ofício ainda insipiente de letrista. Quem sabe o que há de soar a partir da vontade de abrir novas páginas aos ouvidos?



sábado, 13 de junho de 2015

gaga portugália


os capas-pretas 
por todos os lados 

ladeiras de fogueiras apagadas 
dentro das togas batinas 
cobertas 
pela capa suja e gasta 
das urinas e de cuspes 
e de beijos escondidos 

porque todos os morcegos 
são fodidos 
e os do sexo feminino 
aglutinam suas coxas 
dentro 
do tubo insofismável das saias 

e quase até os joelhos 
se ajoelham 
com seus sapatos de convento 
para a cara apática de toda a tradição 

e os do sexo masculino 
são gosmentos 
e riem e sonham com 
soldados e henriques 
e todos têm chiliques às cinco da manhã 

quando saem de festas 
onde não falam e não dançam 

só contam causos 
sem acasos