segunda-feira, 11 de julho de 2016





Formação de onças habita o quarto.
Digo rápido me esqueci um detalhe de rotina.
Não há tempos entre nós dois.
Somos um pouco de nada, assim jogado na areia
esperando que os dias mornem.
Mornar: parar o tempo em uma formiga.
Ser memorando. Aquilo que se diz depressa. Pura informação.
Tampar: tentar com pouco tino dizer o memorável.
Tempar: tampar com água morna todos os cadáveres.





sexta-feira, 1 de julho de 2016






sem título, 2016, colagem e monotipia










Hoje tive alguns pendores
com aquela Ana Cristina.
Ana Cristina era persona.
Eu, personne.
Ela, cansada de ser homem
tirou luvas de pelica, delicadas
e foi chorar no banheiro.
Isso eu faria, não fosse porca.

Em Lajeado, uma porca matou homem.
Ela dava a luz quando acudiu o agricultor.
No culto da criação, ele era demais.
Ela devorou muito da sua carne.
Sobre o porquinho, ninguém falou.

Talvez por isso eu seja pouca
devorando cartas, maus poemas
e cassetes bossa-nova.

Quando me amansarem,
serei Pessoa nenhuma.



*poema do livro Rumor da casa (7Letras,2008)