Depois da água









Depois da água foi financiado pela Fundação Cultural Catarinense.
Mais informações sobre o projeto em www.depoisdaagua.blogspot.com.


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Depois da água saiu em 2014, pela Editora Nave / Nauemblu Ciência e Arte, de Florianópolis, através do Prêmio Elisabete Anderle, do Governo do Estado de Santa Catarina. O design gráfico do livro é de Ayrton Cruz, a edição ficou a cargo de Dennis Radünz. Contém fotoperformances em light painting realizadas em 2013 sob orientação da artista e professora Maria Lucila Horn. 












































A ideia do livro surgiu a partir de um conjunto de performances de poesia falada, criadas e realizadas de 2009 a 2013. Aconteceram nas livrarias Saraiva de Porto Alegre, no festival Arte en Loberías e no Mundial Poético de Montevideo, na 7ªBienal do Mercosul através da Ronda de Poetas de Martín Barea Mattos, em Feiras de Livro como as de Porto Alegre, Lajeado, Cachoeirinha, Itaqui; no Agosto das Letras, de João Pessoa, entre outros espaços. 
Depois da água é resultado, também, de meus estudos de música (2009-2011), que acompanharam a montagem da performance. Estudei Teoria e Percepção Musical nos cursos de extensão do Instituto de Artes/UFRGS, Flauta Transversal com Franco Salvadoretti e percussão com Marco Binatti e o grupo Gurias da Percussão/Afrosul Odomodê.
Já no livro, apareceu um pouco das minhas experiências com as artes visuais (a partir de 2012), na forma de fotografias especialmente compostas para o projeto, que foram exibidas em Florianópolis no Espaço Lindolf Bell através do Festival Floripa na Foto. 



participação no festival Floripa na Foto, 2014





























A água se diz no feminino. É placenta, cachoeira, lágrima e saliva. A água é onde mora Nossa Senhora Aparecida, Nanã e Iemanjá. Flui como rios de linguagem, fios de poema, fluxo de imagens e sons.

Em 2209, construí uma performance de poesia com textos de meus dois livros publicados e também do inédito Depois da água. Utilizei o elemento água como imagem que reúne em seu seio a cadeia metonímica realizada nos poemas. Existência e transcendência, relações entre homens e mulheres, urbanidade e cotidiano são temas recorrentes no conjunto. 



registro de performance Depois da Água na 7ª Bienal do Mercosul, 2010




Estive demais com Deus
e voltei dolorida.
Andei entre pinheiros
e vi sua vida
aos avessos.

Voltei cansada
e suada e impura.

Ele estava
em calçadas em becos escuros
em vielas e atropelos
aos socos.

Eu vi Deus e seus abortos.
Seu câncer, sua renúncia.

Eu O vi
nu e sem núpcias

Estuprado
nos portos das mulheres
e dos travestis.

Eu O vi deslumbrado
por ouros e catres

e em corpos putrefatos
de reis e dos seus pares
suas putas.

Deus não sabe o que vê
porque brilha tanto
que se ofusca.

Não pode ver a sombra.
Alumia e faz a noite
ficar dia e Deus está cansado ─
não sabe dormir.

Tanto trabalho
a transmutar as sombras.

A noite nunca sobra
porque tudo o que há é Deus,
a aurora.
















frames do vídeo Depois da Água, 17min, 2014





A verdade
nunca mora a descoberto.

É nas frestas
nos soslaios
que se faz amor.

Em quartos escondidos
onde o sol a pino
degreda de gritar.

Amar assim nu
nas núpcias do dia
é sempre perigoso.

Quando o sol
se enterra em seu osso
no profundo da sua carne
é peso.

O sol está preso
em seu desvanecer.

Grita que não morre
não morre, não morre.

O sol cigarra.

Ele estupra a pedra
porque
não pode morar nela.

A pedra conhece o seu peso:
o prazer de amar tanto
que é sombra o seu canto.






O lado solar da nuvem
é a chuva.

Brilha por não ter: reflete.

Deus é aquilo
que molha.

E que não sobra.

Deus está úmido
a todo tempo.

Úmido de lágrima.
Úmido de orvalho
de cuspe e de xixi.

É caro seu alívio
que apaga mágoas.

Do sol, ele deságua.







Devagar com o andor, devagar.
Porque esse santo que tem lama no olhar
é meu Adão ao contrário.
Foi do meu barro que ele saiu.
Devagar e não assustem os passantes.
Ele é assim, chora lágrimas lilases
porque é a Mãe das Mães.
Todos sabem.
Devagar com a dor, e sejam rezas suaves. 
Porque ele é fraco na força.
E tem muitos poderes.
É meu filho.
Tenho santos femininos, sim, são humanos.
Tem deus, tem deus, tem deus.
Cantam as cigarras.
Ao barro há de voltar, para meu corpo.
Gritam. Gemem. Cantam as cigarras.
 não nos levem sem rezas e sem rimas.
Ele chora lágrimas de barro.
Meu santo, minha santa, ele canta.
Mas sussurrem, falem baixinho:
nana no colo dela, nana no colo dela,
nanananão.
Nanananão. Meu filho:
eu sou mais velha que Adão.


















lançamento em Porto Alegre, foto de Rodolfo Ribas




Ouça um dos poemas de Depois da Água na voz de João Amado (áudio, 2015):

Clique aqui

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Confira os vídeos de Depois da Água:

Para assistir ao Teaser (1'02''): Clique aqui
Para assistir ao Videopoema (1'43''): Clique aqui

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Mundial Poético de Montevideo:

Vídeo da TV Ciudad com 3 poemas falados: Clique aqui.