domingo, 22 de dezembro de 2024

"Ilustrar" Desconjunto, traduzi-lo em imagens


Entre os planos que ficaram para o próximo ano, além dos projetos de um livro de ensaios e vários textos investigativos, há um conjunto de ações similares às do Rumor da casa, em 2024: quero fazer as revisões e edições grátis, em pdf., dos livros mais antigos, discutir suas performances, revisitar seus pressupostos. 

Eu ia reiniciar pelo Depois da água, mas decidi me dedicar antes ao primeiro livro, o Desconjunto. Em relação ao Rumor, eu dispunha de muitas imagens, antigas e recentes, para acompanhar a série de postagens que fiz no meu Instagram, com os poemas em revisão. A mesma coisa com o Depois da água, que contém um caderno de fotografias e todo um trabalho de fotoperformances em lightpaiting, que também foi exposto. 

E o Desconjunto? Figurinos, objetos cênicos não existem mais. Registros de performances ao vivo tenho vários, mas me surgiu um desejo: (re)"ilustrá-lo", ou melhor, traduzir para novas imagens a atmosfera mais surrealista dos textos. Já disponho de um grupo de desenhos, os quais iria complementar, na mesma técnica usada (giz pastel sobre xerox de fotografias). Coisa da qual não me senti capaz. Tentei por um lado ou outro, durante o semestre passado, e tentarei novamente no próximo, assim que começar a série de postagens. Isso significa voltar ao formato A4 e ao fundo PB, depois de muitos meses de colagens sobre tela, com veladuras verdes (a série de 12 telas Pele & anexos, concluída).

Foi uma boa a experiência de postar os poemas do Rumor, conforme eu os ia revisando. Assim, fui elaborando com tempo as notas de processo, repensando os textos, conversando com amigagens que também são poetas sobre pormenores nada inferiores. Esse conjunto de postagens que antecede o fechamento das revisões para o livro digital foi o modo que escolhi de testar dimensões e limitações do meio/mídia, além de refletir sobre o que cabe e o que não cabe numa versão atual, voltada para leitura em dispositivos que, de alguma forma, aceleram muito a fruição, mesmo em contraste com a oralidade (e, com o impresso, nem se fala).

Um livro eletrônico é muito diverso de um livro encadernado, embora as versões e-book quase sempre acompanhem a linha dos materiais físicos, hoje. Creio que ainda surgirão muitas especificidades para debate, sobre essas coisas, no campo literário. Como a leitura de romances é a mais popular, tanto nos meios digitais como dos livros físicos, essa discussão tem sido tímida. Considero cada mídia, cada espaço, com seus desafios particulares.

Isso tudo é especialmente complexo quando se trata de um trabalho de poesia que investiga a performatividade dos suportes, e que teve na oralidade o seu registro de nascença. Esses três primeiros livros que publiquei, e mais ainda o Depois da água, foram maturados depois de um tantão de performances em público. Todos eles tiveram uma versão em livro muito posterior à sua elaboração conceitual. Sou grata por poder, hoje, refletir sobre essas questões de materialidades e suportes com muito vagar e honestidade, revisitando meus erros de juventude para elaborar questões de pesquisa.

Não tenho mais a primeira versão do Desconjunto. Ela data de 1998, quando entreguei no Instituto Estadual do Livro do RS o original do que seria minha primeira publicação. Chamava-se "Mundos possíveis" e tinha poemas mais breves. Foi selecionada para edição (o que, em si, já era uma glória), mas um conjunto de situações institucionais (entra governo, sai governo, muda a equipe, acaba a verba, etc.) fez com que esse prazo entre avaliação, seleção e publicação durasse 4 anos. Sorte a minha, que tive um primeiro livro mais maturado. E não me envergonho dele. Tanto que performei, ano passado, em Montevidéu, um poema que consta ali, uma espécie de homenagem à Ana C., na minha rápida passagem quase penetra pelo Mundial Poético de 2023. Isso me leva a outro dos planos para 2025: o de performar um pouco mais, seja ao vivo ou para áudio, vídeo, fotografia, redes sociais, e mesmo para trabalhos impressos.