Com o fechamento da editora Ipêamarelo, encerra-se um ciclo para o romance As avessas. Fora os últimos (últimos) exemplares dos quais dispomos, não haverá mais a circulação impressa dessa versão do livro. Uma segunda edição, talvez, nos próximos anos, creio que incluirá a reescrita do material, que é longo e tem lá, também, as suas dificuldades de leitura.
Saber que há menos um espaço de materialização de literaturas, de circulação de sonhos, é sempre desolador; e a notícia do encerramento das atividades da editora, que veio definitiva na semana passada, não deixou de entristecer minhas meninas (a Clara, a Luísa, a Clarissa e eu, a avessa do livro). Por outro lado, sabemos que trabalhamos com alguma dignidade para fazer com que o livro chegasse às leitoras e leitores. Os materiais que estão na página do As avessas aqui no blog dão uma ideia de como foi esse percurso, do qual trago memórias bonitas de tantas lives, encontros, conversas, trocas de percepções e reverberações.
E torcemos para que o Anderson Bernardes, que se dedicou à publicação e à editora com tanta paixão e intensidade, seja mais reconhecido, também, como escritor. Anderson é autor do incrível "Não arranquem os vermes de mim" (mais aqui), um livro lindo, sensível, comovente e montado de um modo muito engenhoso. Aliar uma linguagem poética em prosa a uma estruturação planejada de modo objetivo, pré-estudado, é bastante raro. Recomendo que conheçam, divulguem, oxalá venham novos romances dele.
Ainda vai ser possível ler o As avessas em e-book pela Amazon e, quem quiser, pode comprar um dos últimos no site. Tenho em casa, também, cerca de trinta exemplares. O mais importante de cada livro, a meu ver, é o modo como ele nos desafia, encoraja, ensina. Nesse sentido, não tenho dúvidas de que o romancinho cumpriu seu papel, embora não tenha reverberado tanto quanto gostaríamos.