domingo, 29 de março de 2020




























Acordou
coberta de likes,
mas sentia
um frio estranho.
São Longuinho nunca falha,
pensou. Vou achar o
pingente que eu perdi
de uma forma assim tão sonsa,
o meu pingo de luz.
E revirava as ondas, as cobertas,
os lençóis, se movia,
mas o frio aumentava
a cada novo like
que ela mesma se dava
diante de nenhum espelho.
Fez força
para não ser em si
só essa luta
entre o visto e o quisto
e não encontrou o pingente
antes das dez da manhã.
Tomou café
perscrutando perfis.
Escolheu uns cinco,
displicente,
enquanto
organizava a agenda.
Deixou a insatisfação
suave da rotina
tomar conta de si mesma
e, quando viu,
fez match com a vassoura
nos cantos das paredes e
arrastou os móveis
lambendo o chão
como se fosse
uma barba espessa, o dia.
Achou o pingo de luz.
Trabalhou, trabalhou, trabalhou,
foi dormir cheia de likes
se cobriu de um cobertor
a mais na cama e pensou
que no fundo não gostava
daquele pingo de luz,
um pingente tão pequeno
apesar de pura prata,
puro ouro,
outro cristal.