quarta-feira, 18 de março de 2015

ogan
toca pra Ogun
que a barra pesou outra vez

ogan
toca pra Ogun
que o branco subiu no cacete

fez o dez três a sete
e pagou sua sede
na faca vazia

toca pra Ogun
pra mais um e mais um

que a garra é aguda e agora é a hora
e a conta demora
pra pagar e apagar

e eu não quero ver meu quintal
cheio de verde-oliva
cheiro dessa briga viva outra vez

cega punhal
pra não ter cassetete
que eu não quero ver tête-à-tête
entre o homem e o céu

então toca pra Ogun
e toca pra Ogun
outra vez
que eu quero ver
o que vai acontecer



terça-feira, 10 de março de 2015

a boca de Clara, a boca rara que entoa e não urra
a boca escura, fervendo
e sendo pura
como panela de santo
ela
a boca santa na tristeza da municipalidade.

a boca do cidadão, a boca boa, a boca limpa
de antes do café
de antes da manhã com notícias de malícias
e milícias de panela.

a boca dela,
a boca das três raças
a boca de argamassa
tijolo sobre tijolo, a boca de fumo.

o apuro das novas
de boca em boca, o aprumo das noivas,
do cidadão de bem, do veja bem,
a boca que vê mais que ouve, a boca louca
louca para ser pouca e pouca
como a boca de padres e patrícios.

mas não há comícios no largo ao largo,
e a boca é de Clara, de canela
a boca dela
boa de beijar de batom vermelho e unhas
a boca que entoa e não urra

a boca pura
do canto do candomblé
para a bruma da municipalidade.


a cachopa da Esperanza para um lado e outro lado e outro e outro: outro, desenhando no ar formas barrocas ocas com a talha que rei nenhum sonhou: uma cachopa no ar, uma coroa, a cor dos séculos de sol e areia assim fundidos em pedra dura de minutos passados percussivamente em cordas transparentes
que balançam  para um lado e outro lado e ouro e outro ouro: um altar que começa sempre onde a árvore de jessé prospera em capão redondo, rotundo e firme para o céu, sem galhos grossos suficientes para nenhuma corda se esticar ao peso do corpo morto

mas matando
a cabeça sem Esperanza