sábado, 16 de abril de 2016


"A conspiração", TS, 2013, 21x29cm,  pastel aquarelável, colagem e nanquim sobre xerox


Antes eu era simples
e até sabia escrever.
Era menina em sol ardente.

Ver o grande Ser e seus entes
não era minha tarefa.
Eu − eu era simples − podia tê-los
porque tinha olhos lúcidos
as mãos suavam
e o vento batia o batente
sacudia ainda os cabelos.

Agora
perdi um jeito de estar
distraída.

No que sou é impossível
decifrar composições.
Nem tenho fácil, brisa fumaça:
− só a música.
Ouço
dentro do ar fechado
entre paredes brancas
quase desiguais.

E nunca aprendi a cantar.


*poema do Desconjunto revisado.


segunda-feira, 11 de abril de 2016









Trabalho Dirigido de Moral e Civismo - 2ºgrau

Vídeo, 1min54seg.
Sinopse: Este livro foi aprovado pela Comissão Nacional de Moral e Civismo – processo CNMC 0062/78 com homologação publicada no Diário Oficial da União de 9 de novembro de 1978.


A performance é uma interpretação literal do título do livro.  





verde vermelho vermelho verde verde vermelho vermelho verde verde vermelho vermelho verde vervelho verde ver de vermelhe olho verde  mergulho verde vermelho verde mergulho verde vermelho ver e vermelho viver verde mergulho verde vermelho ver vim verde vermelho ser verde vermelho vermelho ver-te velho vermelho velho velo o vermelho verde ver de vermelho viver de vermelho verde vermelho verde cada verde vermelho casa vermelho verde quanto verde vermelho caralho verde vermelho verde verde vermelho vermelho verde verde vermelho vermelho ver de caralho velho velho vermelho velho verde verde ver o velho vermelho de casa verde ver de cada olho vermelho vermelho verde verde vermelho vermelho verde verde vermelho é velho verde verde ver o olho olho velho verde vermelho vermelo verde olho verde verde vermelho velho ver o verde vermelho elo verde verde vermelho vermelho verde elo o verde verde velho vermelho elo de novo velho velho verde verde vermelho vermelho verde verde vermelho é lhe o verde verde o vermelho vermelho verde verso vermelho vermelho ser de vermelho o verde verde vermelho vermelho verde verme verde verde vermelho verme caralho caralho vermelho verde verde caralho vermelho verde

2016, lápis pastel, 21cmx29cm




sábado, 9 de abril de 2016





saber a vírgula do vermelho não é para qualquer um. aliás, um mais um é dois, mais um é três, mais um é quatro, mais um de quinhentos anos e não tem mais vez o vício de recontar as vagas e as histórias que morreram no mar. cada cor tem sua vírgula e algumas reticências. porque o reto se desdobra em dúvidas assim que passa a curva do concreto e o trânsito diminui e se abrem os campos cobertos de nada à nossa frente. sim, é no pleno daquela estrada que deixa a vertigem de verticalidades para trás que a gente mora. por isso somos tão surtados e tão amados e a verdade mora em nós como que de passagem. porque nós passamos por muitas cidades invisíveis. aquela que o morador de rua anunciava quando a gente ia comprar flores no cedo da segunda-feira e se lembrava que tem alma que não dorme de noite. aquela da mímese sem mundo da criancinha que vai para a linha de confronto porque não tem pão. aquela do homem de terno ali na fila da sopa, na calçada portuguesa, onde não se trocam notas de duzentos euros. aquela da índia que não pôde parir porque o governo queria esterilizar só as índias más. aquela do gurizinho que nadou à toa, até sem vida ao chegar de borco na areia, um borco de burca, de buraco, de onde flagraram seu anátema de anjo. aquela das barbas bravas dos guerrilheiros que não sabem meios tons. e tantas tonturas nós tivemos em meio às pápricas  picantes e aos santos altares que deixamos de valorizar todos os temperos e passamos a comer o trigo cru. qualquer um sabe a vírgula do vermelho, porque é a única cor realmente transparente, a onda cumprida ao contrário do tudo que cabe, a cor comprida no ar comprimido da linguagem. 


Telma Scherer, sem título, 2013-2016, pastel e colagem, dimensões variáveis (detalhe)