quarta-feira, 18 de julho de 2012




Réquiem para Roberto Piva




Eu era um pouco da tua voz violenta, Maldoror
                                  Roberto Piva

Guarde-vos Deus; e que a Futura Divindade Tutelar das Estranhezas Irritantes vos assente à sua mão direita.
                            Fernando Pessoa




  




Sem as tuas imagens & miragens
o riso do xamanismo é água do Tietê.

Tu vais à margem do sorriso dos Burros
─ uma boa hora para morrer.

Fanfarra tuas asas de borboleta!

Pudeste evitar
a pilantragem dos pênis Politicamente Corretos.

Pudeste evitar
essa aragem de afagos em comércio
merda para o sustento dos Fracos & dos Covardes.

Merda para o Sustento dos Fracos & dos Covardes!

Esta é ainda a melhor hora para morrer
quando as margens do pensamento
são um rio de cocôs // restos do alumbramento /
negociando o seu último cachê
para o choro do Pai Xangô.

Bendita a voz extinta do último Cacique.

Piva: mestre dos alucinados
pai dos Sem Razão
apito das mensagens que mandam dizer
CHEGA.

Se não se pode servir a Deus e a Mammon
a poesia não mama em Ouros Pajés.

Por certo teus porcentos não davam.
Não chegavam para o tratamento.

E nunca fizeste nada que Jesus não disse:
 quando andardes por aí a pregar o Evangelho −
não vos incomodeis em levar nada nos bolsos.

Mas Jesus era um Velho e estava certo.
E sem nunca te danares com um Pai morto
foste Louco porque podias ser.

Não paraste para os cálculos vernáculos
de palavras sem Vênus, amores sem Ânus e
limpo limpo limpo
limpo da estupidez do tempo

não precisaste de alma sem Causa para te seguir.

O século XXI te dará razão
em suas varizes e preços e códigos de barras.

O século XXI não te deu sustento
porque seus momentos não iam muito além −

senão que aquém, bem aquém das calçadas
da tua cidade inventada:

desertos de virtude como se sobrasse algo
do pó de dentro das nossas cabeças.

O que pode perdurar?
O século XXI não me dá tesão

e eu quero continuar o teu tento
nesses anos 70 tão possíveis de criar.

Porque sem a Prática da Poesia não há teorias
e todos estão fazendo um excelente trabalho

um excelente trabalho um excelente trabalho

para sustentar seus vícios:
fome de regras ABNT
fome do teu nenhum cachê.

Manifesto meus profundos
obséquios condolências
àqueles que querem
te foder sem camisinha
na frente da TV
e jurar seus casamentos
─ cozimentos brancos do século XIX
como se fossem novos só às nove.

E quando te venderem em ópios
para o charme dos bonitos
em capas duras bem boladas

quando te beijarem em bonecos de borracha
no fuso horário de grandes editoras
tuas toras e bundas e ais de Kens
serão salários Profissionais

─ Que faremos? Te leremos nas escolas?

Oh santo pornô, soldado da Vida,
tuas ereções são verborragias / tuas bocas insanam
a sangria de imagens que satisfazem Sonsos.

Seremos publicados nos Anais dos que desistiram
Nossa Geração Que Não Fez Nada.

Índio Sábio do teu jeito
(Santo Cheio de Desejo)
se é que sabe ler a Chama ─ é porque não aprendeu

e zen, fez Pessoa passar pelos nossos olhos
também, num afago ─
─ isso é Magia.

Literaturas Adequadas e-books sangue frio
─ o Mar Morto das elites ─
singrando navios pelo Fracasso Linguístico
e suas Ondas comunicativas modas publicitárias.
Otárias
alquimias de borracha sustentam as suas cabeças.

Esse Extremo Excesso espanta as aves ─ mata
faz mudo teu canto, pelo menos por enquanto

poucos te choram, poucos te gritam, muitos
deixam para depois.
Mas o século XXII te dará razão.