Réquiem para Roberto Piva
Eu era um pouco da tua
voz violenta, Maldoror
Roberto Piva
Guarde-vos Deus; e que a
Futura Divindade Tutelar das Estranhezas Irritantes vos assente à sua mão
direita.
Fernando
Pessoa
Sem as tuas
imagens & miragens
o riso do
xamanismo é água do Tietê.
Tu vais à margem
do sorriso dos Burros
─ uma boa hora para morrer.
Fanfarra tuas
asas de borboleta!
Pudeste evitar
a pilantragem
dos pênis Politicamente Corretos.
Pudeste evitar
essa aragem de
afagos em comércio
merda para o
sustento dos Fracos & dos Covardes.
Merda para o
Sustento dos Fracos & dos Covardes!
Esta é ainda a
melhor hora para morrer
quando as
margens do pensamento
são um rio de
cocôs // restos do alumbramento /
negociando o
seu último cachê
para o choro do
Pai Xangô.
Bendita a voz
extinta do último Cacique.
Piva: mestre
dos alucinados
pai dos Sem
Razão
apito das
mensagens que mandam dizer
CHEGA.
Se não se pode
servir a Deus e a Mammon
a poesia não mama
em Ouros Pajés.
Por certo teus
porcentos não davam.
Não chegavam
para o tratamento.
E nunca fizeste
nada que Jesus não disse:
quando
andardes por aí a pregar o Evangelho −
não vos incomodeis em levar nada nos bolsos.
Mas Jesus era
um Velho e estava certo.
E sem nunca te danares
com um Pai morto
foste Louco
porque podias ser.
Não paraste
para os cálculos vernáculos
de palavras sem
Vênus, amores sem Ânus e
limpo limpo limpo
limpo da
estupidez do tempo
não precisaste
de alma sem Causa para te seguir.
O século XXI te
dará razão
em suas varizes
e preços e códigos de barras.
O século XXI
não te deu sustento
porque seus
momentos não iam muito além −
senão que aquém,
bem aquém das calçadas
da tua cidade
inventada:
desertos de
virtude como se sobrasse algo
do pó de dentro
das nossas cabeças.
O que pode
perdurar?
O século XXI
não me dá tesão
e eu quero
continuar o teu tento
nesses anos 70
tão possíveis de criar.
Porque sem a
Prática da Poesia não há teorias
e todos estão
fazendo um excelente trabalho
um excelente
trabalho um excelente trabalho
para sustentar
seus vícios:
fome de regras
ABNT
fome do teu
nenhum cachê.
Manifesto meus
profundos
obséquios
condolências
àqueles que
querem
te foder sem
camisinha
na frente da TV
e jurar seus
casamentos
─ cozimentos
brancos do século XIX
como se fossem
novos só às nove.
E quando te
venderem em ópios
para o charme
dos bonitos
em capas duras
bem boladas
quando te
beijarem em bonecos de borracha
no fuso horário
de grandes editoras
tuas toras e bundas
e ais de Kens
serão salários
Profissionais
─ Que faremos?
Te leremos nas escolas?
Oh santo pornô,
soldado da Vida,
tuas ereções
são verborragias / tuas bocas insanam
a sangria de
imagens que satisfazem Sonsos.
Seremos
publicados nos Anais dos que desistiram
Nossa Geração
Que Não Fez Nada.
Índio Sábio do
teu jeito
(Santo Cheio de
Desejo)
se é que sabe ler a Chama ─ é porque não aprendeu
e zen, fez Pessoa
passar pelos nossos olhos
também, num
afago ─
─ isso é Magia.
Literaturas
Adequadas e-books sangue frio
─ o Mar Morto
das elites ─
singrando
navios pelo Fracasso Linguístico
e suas Ondas
comunicativas modas publicitárias.
Otárias
alquimias de
borracha sustentam as suas cabeças.
Esse Extremo
Excesso espanta as aves ─ mata
faz mudo teu
canto, pelo menos por enquanto
poucos te
choram, poucos te gritam, muitos
deixam para
depois.
Mas o século
XXII te dará razão.