terça-feira, 10 de março de 2015

a boca de Clara, a boca rara que entoa e não urra
a boca escura, fervendo
e sendo pura
como panela de santo
ela
a boca santa na tristeza da municipalidade.

a boca do cidadão, a boca boa, a boca limpa
de antes do café
de antes da manhã com notícias de malícias
e milícias de panela.

a boca dela,
a boca das três raças
a boca de argamassa
tijolo sobre tijolo, a boca de fumo.

o apuro das novas
de boca em boca, o aprumo das noivas,
do cidadão de bem, do veja bem,
a boca que vê mais que ouve, a boca louca
louca para ser pouca e pouca
como a boca de padres e patrícios.

mas não há comícios no largo ao largo,
e a boca é de Clara, de canela
a boca dela
boa de beijar de batom vermelho e unhas
a boca que entoa e não urra

a boca pura
do canto do candomblé
para a bruma da municipalidade.