Por ocasião de minha participação no Mundial Poético de Montevideo, em novembro, surgiu a necessidade de traduzir três poemas de meu livro Depois da água para o espanhol. Esta foi a provocação inicial, que acabou se ampliando para um número maior de textos e gerando um processo generoso de descobertas e alegrias tanto para o tradutor quanto para a autora. A transcriação foi realizada com esmero por Juan Manuel Terenzi, cujo talento e preciosos insights embelezaram as versões.
Hoy no
salió
el sol.
Se me fue
mi otoño.
Hoy el sol
abrió sus
arenas
en las
venas
de mi
cama.
Tan
tristón
tan sin
vez.
Se me fue
el eco
del
desierto.
Hoy el sol
lagrimeó
un tango
antiguo
olvidado.
No pasó de
largo
ni bailó
por el cielo.
Hoy el sol
papel e
hielo.
Escalofrío
de luz
en el
epicentro
del
silencio.
Hoy el sol
es un son
de adentro.
Hoje o sol
não saiu.
Sumiu
de mim
meu outono.
Hoje o sol
abriu suas areias
nas veias
da minha cama.
Tão tristonho
tão sem vez.
Sumiu
de mim
o eco do deserto.
Hoje o sol
chorou
um choro antigo
violado.
Não mirou de lado.
Nem andou no céu.
Hoje o sol
é de papel.
Arrepio de luz
no epicentro
do silêncio.
Hoje o sol
é um som
de dentro.
não saiu.
Sumiu
de mim
meu outono.
Hoje o sol
abriu suas areias
nas veias
da minha cama.
Tão tristonho
tão sem vez.
Sumiu
de mim
o eco do deserto.
Hoje o sol
chorou
um choro antigo
violado.
Não mirou de lado.
Nem andou no céu.
Hoje o sol
é de papel.
Arrepio de luz
no epicentro
do silêncio.
Hoje o sol
é um som
de dentro.
Juan
Manuel Terenzi cresceu em um ambiente bilíngue: espanhol (Argentina) em família
e português na escola. É graduado em Engenharia Química e em Letras Espanhol na
UFSC. Atualmente finaliza o mestrado em Teoria Literária, estudando a obra de
Juan Carlos Onetti, e cursa a graduação em Filosofia, também na UFSC.
Porque tu voz habla otra lengua,
pero tu boca no.
Tu boca profiere
lo que hay en las entrelíneas
y no se precisa.
Tu boca, del otro lado de la frontera
perfectamente mía.
Porque tu boca habla al sesgo
y no habla en lenguas.
No necesita subtexto
ni de vueltos devueltos.
Tu boca de vuelos, es loba.
El contexto es el lobo del habla, ladrón.
Porque tu boca es igualita a la mía.
Y nosotros hablamos. Sin embargo, nuestros ojos
se besan. Porque tus ojos vinieron de otro mar
y son míos. Tus ojos
filisteos, navegantes, estrellitas,
tus ojos dicen todo lo que ves.
Somos nosotros. Nosotros. Nós
dois.
Porque tua voz fala outra
língua,
mas tua boca não.
Tua boca profere
o que há nas entrelinhas
e não se precisa.
Tua boca, do outro lado da
fronteira
perfeitamente minha.
Porque tua boca fala de viés
e não fala em línguas.
Não precisa de subtexto
nem de trocos trocados.
Tua boca de trocadilhos, é loba.
O contexto é o lobo da fala,
ladrão.
Porque tua boca é igualzinha à
minha
e nós falamos, entretanto
nossos olhos
se beijam. Porque teus olhos
vieram de outro mar
e são meus. Teus olhos
filisteus, navegantes,
estrelinhas,
teus olhos dizem tudo o que vês
no escuro.
Somos nós. Somos nós. Nosotros.