nunca vivi longe de rio ou mar, mas isso não vem ao caso. as casas são sempre costeiras. carregá-las nas costas não custa nada para quem tem seus caderninhos. navegar por aqui, nesse remo de beira bossa, não fica fácil quando alguém ao lado pergunta: se eu quase, se eu não, se eu trouxe as chaves. pedras, água de lodo e cachoeiras sangram pelas salas da memória. a casa fica sobre terreno térreo, chão atroz, aqueduto, onde não há assaltos. mas se rouba sempre um tempo em que se lavava calçadas. assar um peixe em churrasqueira é para aqueles que não pretendem estragar o sábado com atribulações. e nunca tive abrasadeiras, a casa avarandada com vertigem de vistas. aqui é para carne pouca. esse mar às vezes dói. porque aqui se come sempre às sextas-feiras. sim, no dia da paixão. fazemos farinha para o pirão das horas, quando todos estão dormindo. porque pirão é sério, viu. nasceu na boca do primeiro século, na mão do primeiro índio, na beira do primeiro ar. e não se deve sujar o ar com os sem mistérios. por isso, é dança, desde o sábado de manhã. na sala das aleluias, água.