Hoje tive alguns pendores
com aquela Ana Cristina.
Ana Cristina era persona.
Eu, personne.
Ela, cansada de ser homem
tirou luvas de pelica, delicadas
e foi chorar no banheiro.
Isso eu faria, não fosse porca.
Em Lajeado, uma porca matou homem.
Ela dava a luz quando acudiu o agricultor.
No culto da criação, ele era demais.
Ela devorou muito da sua carne.
Sobre o porquinho, ninguém falou.
Talvez por isso eu seja pouca
devorando cartas, maus poemas
e cassetes bossa-nova.
Quando me amansarem,
serei Pessoa nenhuma.
*poema do livro Rumor da casa (7Letras,2008)