quinta-feira, 26 de novembro de 2015




Uma avenca, quando parte, é para nunca mais voltar a ser raminho em meio às intempéries. Todos pensam que avencas querem árvore, mas uma avenca, às vezes, é quem simplesmente descobriu que na linguagem de dia de semana também se encontram os anjos propensores, que gostam de brincar nos escorregadores que pendem desde o vácuo do céu da boca. Uma avenca nunca termina de partir porque está sempre atrasada, bem atrasada, e onde quer que vá chegou antes do sol raiar. As avencas são viúvas de todos os lábios. E desde que os ônibus começaram a estacionar em perfeitos boxes retilínios, as avencas também fingiram não possuir a réstia de anjo na boca. Porque os desenhos do trajeto da avenca são sempre curvilíneos. Mas há que passar a ponte, pegar a estrada de chão e seguir rumo àquilo que não tem explicação. Toda avenca parte para Vila Nova. E chega antes. Não adianta você dizer que as avencas são orelhas tapadas para o universo de metáforas que se desprende dos relacionamentos. Quando você puser essas palavras na cauda do anjo, a avenca já partiu. E na curva da estradinha, em meio ao vácuo de luz que só existe para além de todo muro, as avencas redistribuem nascentes para despoluir as fazendinhas. Por isso, o peito delas é pesado. Porque há sempre portões fechados em todos os relacionamentos e elas querem voar em forma de breve sinuosidade por entre os pastos. O peito de toda avenca se mede em tabletes de puro ouro sujo e desgovernado e, por isso, ela voa tão desajeitada entre os ramos para pousar em um montinho de terra ao lado e, como quem não quer nada, jorrar uma nascentezinha igual à da fonte da donzela. No burbúrio da rodoviária, terra de latifúndios, uma avenca jamais poderá sorrir. Só quando ela abrir as suas asas pintadas a têmpera ela poderá dizer: sim, muito obrigado, amo você, tome cuidado, não é por aí.