domingo, 10 de janeiro de 2016




nada é novo.
são os mesmos pratos sobre a mesa,
o mesmo grito dos cachorros
e os fogos de artifício
artificiais
como as luzes de todos os natais.

nada é novo.
só quem se comportou
vai ganhar presente.
há quem ainda aguente
os merengues dos telejornais.

feliz não é um ano novo.
natal não sobe morro
morro que morre do que também morro
e conta histórias
de outros carnavais:

índio degolado e
rapaz engaiolado por engano
no engodo de um de tantos policiais

quem sabe que sabe não recorda
a curva zonza dos canaviais
e as mortes por diarreia
e as assembleias tão brancas
onde votaram coisas tais
como cortar gargantas e
as liberdades individuais

e envergonham os pais vindouros
com as luzes de tantos assombros.
é o plim, é o ouro,
o estopim que desloca lama para o mar.

é o que engasga o olhar
nos garfos prateados
dos pobres assalariados
que ainda se julgam deus.

feliz não é um ano novo
na fila que fazem os corpos
que pagam a prazo os presentes
das pessoas que estão ausentes
dentro dos próprios corpos.

feliz é o plim, é o ouro,
o estopim que desloca
a lama, devagar.