Para silêncio de cordas e nãos é
preciso ter o cuidado de não se mover. Se mexer esse braço, já estronda o órgão
suspenso desse quase céu. O tempo. Aqui é azul e por isso são abismos os
espaços do som. Para a dor de encontrar, não há remédio. O não é proferido sob
o sol a pino e então que tudo abunda. São tambores, fagotes, zabumbas,
trombones e trompas de falópio. São os sossegos que não regeneram. Para cima e
para baixo, há vida. Mas o sol se move. E a vida esquecida entre sons já então
se cronometra. Um leve mexer de mechas é o suficiente para sonatas inteiras,
intragáveis, a encher o espaço aberto. O corpo. Tão perto do calendário, o
peito, que só um cristão aguentaria. Ainda há jogos de paciências, há dedos, e
ciências na geladeira. Para ficar um pouco em paz, come-se o não com vinho.
Idealizam-se iguarias. Para a dor de encontrar, entretanto, não há remédio. Por
isso se samba até sem perna, sem braço, sem cílios que se abrem em abraços, sem
tédio, para a sina do silêncio de cordas e nãos.
poema publicado no jornal Qorpus, Pós-Graduação em Estudos da Tradução da UFSC, nº20.