Pinto com o
que sobrou de tinta
no fundo da
tigela.
Pinto com os
restos
dessa voz
desconhecida.
Escrevo palavras
deixadas ressoando,
vestígios de
um corpo que passou.
Suas linhas
desenharam no chão
uma estrela incompleta,
reta e transeunte.
Pinto com as
manchas que fincaram na mesa
pinto o meu
poema velho, pouco vinho do porto,
nada vinho
da madeira, azedo,
carcomido
pelos cupins, sujo da merda dos morcegos
que
sobrevoaram a noite
de uma sala inconclusa.
Escrevo com
o cuspe de palavras que eu não disse
e que nenhum
milico usou
para limpar
suas botas.
Então grito
a dor desses sussurros.
Imito o som
guardado de orgasmos aguados, aquarelas,
pinto no
fundo da tigela
uma luz de
estrela estremecida
que sim, agora
sim, se completou
na borra do
café, no prumo da manhã.
E faço amor com
o resto das plantas
de um jardim
destroçado, depois do fim de jogo.