sábado, 3 de fevereiro de 2018




A cobra preta na trilha para Naufragados. À distância, era como um sinal vermelho. Paramos. Ela reluzia azul. Cruzou a trilha devagar, escalou o barranco coberto de mato, quase desapareceu. Quando nos movemos, ela se mostrou num tronco, enroscada, lá em cima, gargalhando do nosso medo. Não sabíamos que era uma muçurana, desconhecíamos a existência da cobra do bem. O catolicismo com certeza incorreu no mesmo erro. Reluzir azul tem certos matizes que quem vê tamanho, nem imagina, coração. A cobra preta era do meu porte e perturbou com a sua suntuosidade o nosso caminho, nós ignorantes da sua boca capaz de engolir outras cobras, até uma jararaca inteira, e sem nem mastigar com seus dentes de dez centímetros. A cobra grande comedora de venenos, que tira da trilha a ameça. Aquela era incapaz de qualquer maldade e, no entanto, nos assustou. Mas tudo o que paga, também cobra. Passamos.