Nos vimos
no meio da pandemia
preparando
peitos em punho
para enfrentar
com porradas
e sustenidos
aquilo
que não se podia pensar.
Nos vimos
no meio da pandemia
e nossos olhos
fervilhavam medo,
e o medo ia até os dedos,
e as nossas vozes vibravam
pelo espaço
como trovões, trovoadas.
No meio da pandemia,
em vertigem,
a verve
dos verbos
se misturando,
se línguas,
alheias aos riscos
da verbalização,
porque as nossas
eram línguas mortas
e antigas
inscritas
no sabor dos ventos
e contaminadas
na memória
desde os cemitérios sambaquis.
A rua
era o perigo de sempre,
perigo de se respirar,
mas agora
se pode pixar
sem contratempo
no meio das madrugadas.
Um baile de máscaras
autômatas
ia e vinha, veloz,
as sombras não nos ouviam,
mantinham distância,
e nós
nos conservamos, também
há séculos
dos outros desses outros.
No entanto,
nos quilômetros
do nosso pixo
propúnhamos o instante.
Nos vimos, assim,
em pleno desespero,
poemas de fogo fácil
em espiral
dispararam
do centro do nada
que agora éramos
sem saber
se se pagam as contas,
se se compram
panos
para costurar as metades
de nós mesmos
com os nós dos outros desses outros,
ajudando com as máscaras.
Caçadores
de borboletas, que éramos,
e de nós mesmos, dos vazios
que vão de um galho a outro,
propondo sentidos
que se despedaçam, só pudemos
propor que tudo passe, e passa,
para podermos
transar com Pã, a sós
dos nós de nós desses nós mesmos
numa espécie de vazio de fábula.