A cobra, de manhã, despencou desde os meus bushes mais altos
e parou bem na frente do portão. Que que aquela cobra tava fazendo há mais de
dois metros do chão, tava caçando instantes esperando que ninguém passasse meus
olhos olham a cobra quero sair de casa não posso parar de olhar fingir que não
existe ali parada com a cabeça no caminho a cobra armada como um bote para nada
como se jogou lá de cima como foi parar lá em cima a cobra anda escalando a
cerca a cobra desce a cobra sobe a cobra se esconde nos arbustos a cobra espera
um momento em que não seja mais nada mas o momento não vem estou aqui olhando-a
estou aqui devorando a sua carne fria que brilha no sol da manhã eu quero sair
quero ir para a praia a cobra não deixa a cobra não me olha mas ela sabe que
estou aqui a cobra cobra de mim uma atitude que não quero ter nem sombra de tirar
a cobra dali nem sombra de coisa na mão quero acariciar o sol a cobra sabe que
não sei como ela foi parar ali ela sobre ela desce ela navega entre as duas
faces do portão se enrosca em grades ela aquece um pouco o momento no qual
quase penso em falar para alguém que há uma cobra e procuro me distrair dizendo para mim mesma que é melhor não me
cobrar e vou colocar roupa para lavar na máquina