sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019




Estou tentando de todas as maneiras, mas não é porque sou livre para me testar --- estou tentando porque as linhas puxam, sim, para baixo, âncoras que eu não amo, e as minhas asas teimam, teimam em recomeçar, a cada sol que veio e que não veio, a cada voo que te leva e traz --- e as asas são banhadas no sempre suor desse meu corpo tenso, que está sendo alguma coisa que se faz. Estou tentando, sim, para parar na rede e ler um livro, e as linhas puxam, e o peso apruma, e eu não sei quem colocou aqui essa espécie de nevoeiro que de repente solto pela respiração tentando entender que as linhas mancham tanto quanto as lamas e que as lamas estão lá fora mas as sinto escorrendo desde o meu ventre: para o mar, para o mar, para o mar. E o mar de repente dorme na minha rede e surge algo crustáceo, como um nó do nevoeiro, como uma bruma, como um letreiro todo escrito em letras de ouro e é numa língua morta, a língua dos abraços, e os voos partem, e os voos vêm, e as letras linhas de repente são tudo o que tenho, mais as manchas.