Cronos, Telma Scherer, 2014, videoperformance, 3min7seg
Trabalho desentranhado do vídeo de Paulo Herkenhoff
(1979) Estômago embrulhado.
O ponto de partida é o livro. O ponto de chegada é a performance. Não, o ponto de partida é o corpo, o ponto de chegada não há. A performance mora no vídeo, um espaço-tempo. O livro provém do ritmo, o ritmo da respiração. As batidas cardíacas são as primeiras páginas das quais se tem notícia. O livro é tridimensional. A escultura tem braços e ossos. O sangue percorre as veias quase em silêncio. As palavras sussurram caladas dentro dos livros que não são abertos. Pode-se fazer de tudo com um corpo: amá-lo, vendê-lo, atá-lo a um poste com uma coleira. Pode-se criar um fluxo com quaisquer conjuntos de palavras, vide a receita dadaísta para compor um poema. A página branca aceita tudo.
A maior parte dos movimentos do corpo são invisíveis. Um livro quase sempre tem
seis faces, Dom Quixote também?
Quantos pergaminhos usados e apagados, quantos ouvidos, bocas, labirintos,
diafragmas e pulmões?
Um livro pode ser falado, ou
composto em
pequenos fragmentos de papel que se entrega ao homem dentro da penitenciária.
Um livro também pode ser
esquecido logo depois de escrito.
Os livros morrem cotidianamente.
Após a primeira impressão, em um
ano 80% desaparecem. Em pesquisa de 2011, averiguou-se que
47% dos brasileiros não conhece
ninguém que venceu na vida por ler muito.
50% não leu nenhum livro nos
últimos três meses.
Mais de quarenta e um milhões de
pessoas leem a Bíblia, enquanto menos de 20 milhões leem poesia. Mesmo assim,
Carlos Drummond de Andrade é o quinto escritor mais lido do Brasil.
85% dos brasileiros não comprou
nenhum livro nos últimos três meses.
71% dos 67% que sabem que existe
uma biblioteca na sua cidade consideram-na de fácil acesso; no
entanto, 75% não frequentam bibliotecas. Destas 164,8 milhões de pessoas, 33%
respondeu que NADA as faria mudar de hábito.
Um livro destroçado: suas linhas podem ganhar a forma de um órgão. A água desfaz os livros com facilidade. Foi um incêndio (o de Alexandria) que nos levou a crer em progresso.
Um livro destroçado: suas linhas podem ganhar a forma de um órgão. A água desfaz os livros com facilidade. Foi um incêndio (o de Alexandria) que nos levou a crer em progresso.