quinta-feira, 29 de outubro de 2015












Cronos, Telma Scherer, 2014, videoperformance, 3min7seg
  
Trabalho desentranhado do vídeo de Paulo Herkenhoff (1979) Estômago embrulhado.  



O ponto de partida é o livro.      O ponto de chegada é a performance.                  Não, o ponto de partida          é o corpo, o ponto de chegada não há.     A performance mora no vídeo, um espaço-tempo.                                                              O livro provém do ritmo,       o ritmo             da respiração.  As batidas cardíacas são as primeiras páginas das quais se tem notícia. O livro é tridimensional. A escultura tem braços e ossos. O sangue percorre as veias         quase         em silêncio. As palavras sussurram  caladas          dentro dos livros que não são abertos.          Pode-se fazer de tudo com um corpo: amá-lo, vendê-lo, atá-lo a um poste com uma coleira. Pode-se criar um fluxo com quaisquer conjuntos de palavras, vide a receita dadaísta para compor um poema.                                          A página branca aceita tudo.
A maior parte dos movimentos   do corpo       são invisíveis. Um livro quase sempre tem seis faces, Dom Quixote também? Quantos pergaminhos usados e apagados, quantos ouvidos, bocas, labirintos, diafragmas e pulmões?                         Um livro pode ser falado,        ou composto                          em pequenos fragmentos de papel que se entrega ao homem dentro da penitenciária.
Um livro também pode ser esquecido logo depois de escrito.
                                                                                  Os livros morrem cotidianamente.
Após a primeira impressão, em um ano 80% desaparecem. Em pesquisa de 2011, averiguou-se que
47% dos brasileiros não conhece ninguém que venceu na vida por ler muito.
50% não leu nenhum livro nos últimos três meses.
                       Mais de quarenta e um milhões de pessoas leem a Bíblia, enquanto menos de 20 milhões leem poesia. Mesmo assim, Carlos Drummond de Andrade                          é o quinto escritor mais lido do Brasil.
85% dos brasileiros não comprou nenhum livro nos últimos três meses.
71% dos 67% que sabem que existe uma biblioteca na sua cidade consideram-na de fácil acesso;                no entanto,  75% não frequentam bibliotecas.           Destas 164,8 milhões de pessoas, 33% respondeu que NADA as faria mudar de hábito.

Um livro destroçado:            suas linhas podem ganhar a forma de um órgão.   A água           desfaz os livros com facilidade. Foi um incêndio (o de Alexandria) que nos levou a crer em progresso.