sábado, 12 de setembro de 2020




A foto da pintura não é pintura; e a própria pintura vive em mim do poema, apenas. O que o poema declara, a mancha de tinta desdeclara, com um certo cinismo e dor nas costas. Mas o que desdeclara o poema, o que é que dispara nas circunvoluções da mente, o que ele dança, onde faz pausa? Essa pintura, no fundo, é música, composta a partir dos ecos de um trompete reverberando a infância, quando o pai espalhava seus agudos pela vizinhança. E percute os gritos das crianças, cada martelada da perene construção ao lado da casa onde vivo, no final de uma rua meio mal calçada, no Campeche, onde os aviões às vezes passam, às vezes pausam.