sábado, 12 de setembro de 2020



eu fiz um colar de estrelas com as cordas do baixo acústico, e ressoavam na sala durante as tardes intermináveis dos meus vinte anos. fiz um vigésimo de segundo, sussurrando estrelas ao som dos meus vácuos, e vi, assim, um sussurro estrangeiro se desfazer nas rusgas do momento em que me vesti, colar, colo, coisa à toda como a presença das estrelas no meu peito, miasmas, minúsculos de momentos distendidos, como a luz nos cadafalsos.

e correntes elétricas estrelaram meus dentros feitos de esquemas e de listas de constelações escondidas dentro das suas calças. como circunstâncias encaçapadas nesses momentos nos quais espocam as luzes de dentro dos seus olhos, como cismas de cachoeiras. a gargantilha das marcas da sua língua no meu desejo constela como coisa à toa nas esquinas que rebrilho entre nós dois. e esses olhos, os seus, que me sugam por dentro, desatinam de estrela sobre os prédios dos quais me jogo para o centro do seu peito que se despede.
seu peito inerte para os meus desejos trama o tempero das quedas.
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fiz esse poema, que não pude revisar, em uma noite de sexta (ou seria quinta?), sentada, a sós, no Tralharia, ao som de um jazz, quase verão. e quem diria que as cordas continuariam, agora que o bar fechou, soando como gongos aflitos, no meio dessas madrugadas em que não se pode sentar para escrever em um bar? um dos meus receios, ao me tornar professora, era o de ser flagrada constantemente nessa condição, que era ainda mais frequente quando morava em POA: a de procurar o burburinho das gentes, para me concentrar. eu gosto do ruído rosa que se forma ao som dos risos de um lugar lotado. escrevi meu réquiem para Roberto Piva num lugar assim, mas bem pé-sujo, como deveria ser, dada a minha pobreza. agora brindo ao espírito mundano no meio da quarentena monja: que o poema nos traga, aos tragos de Maiakóvski, um pouco de futuro, de brisa, ou de baixo acústico.