domingo, 20 de setembro de 2020






 

Um cálice eterno  − eternas férias.


Voos de percevejo

por debaixo dos colchões.

 

Areia movediça

em sons e fúrias do sono

sob os pés que abrasam, no peito,

o vexame de ter dito améns.

 

Etéreo milho

estalando por entre os joelhos

que ainda com os pés me pisam

no sono-verdade dos tempos

 

em tempos, se abrindo e fechando,

matéria noturna das horas.

Pelas paredes, tudo pesa,

 

a malemolência dos minutos

desgasta-se em sons, fulminando figuras

de baratas amarelas entre cartas

nadando

no pó

 

ora líquido

dos passados.

 

E os sentidos, não invento − espreguiço.



*poema do livro Desconjunto, de 2002, revisto em uma manhã de domingo, em 2020.