terça-feira, 1 de setembro de 2015



o diabo à solta no Jardim das Virtudes, o diabo desce a colina ao lado do Largo do Viriato e se esconde entre glicínias, à espreita. quando anoitece sai, como os outros visitantes, pelos buracos da cerca.
o diabo cerca o Cerco do Porto e abre suas portas para todos os marroquinos. e alveja nossos azulejos de quatrocentos anos atrás. o diabo está sempre detrás do cedro, e cai com as folhas, sem estrépito, quando passam os guardinhas. o diabo sempre tem vizinhas na árvore ao lado com seus livros e os cães enamorados que só veem grana no Jardim das Virtudes, aqui ao lado, onde ninguém nunca tem nada para fazer. o diabo come bom bocados aos montes e dá recados para a velha gorda com seus filhos e afilhados
 - estamos por todos os lados, nos solados e nos seus pés, nos vidros nos gramados, aos cacos, para machucar as raparigas. o diabo sempre está danado e mora nas abelhas de bom humor. e por isso tantos são picados debaixo dos telhados, nos canteiros, longe dos bueiros, das eiras e beiras das bordadeiras que só vêm ao Jardim depois da missa. o diabo nunca se abisma mas às vezes a criança o joga ao sopé do rio, e o diabo boia pelo Douro até o matadouro da Foz.