As lágrimas vermelhas molharam
o chão do Mercado Público.
As lágrimas eram vermelhas e
ofuscavam meus próprios olhos, de onde elas vertiam, desconsoladas, para
diversão dos aflitos.
Por onde eu passava, sofria a
multidão. O povo, se não me saudava de canto de olho, pelo menos me dava
um passo atrás.
Eram lágrimas de tinta, eram furta-cor, eram lágrimas amarelas que saíam de minhas lágrimas
vermelhas e jorravam até o mar.
Eu fiquei parada no segundo
andar do Mercado Público, vertendo-as sobre o vestido.
De branco ficou vermelho, e
disto foi se mudando em tantas múltiplas cores que todos os pássaros revoaram
desde mim.
E assim, cega vendo o céu, sem no mínimo querer, dei
alegria aos que me viram, porque finalmente eu era uma pintura. A esta altura.
Eles cantaram, eu não cantei.
Nós suportamos um pouco melhor a vida & suas dores destruídas. Ficamos
bobos, ao lado, no lodo das cores, na curva lilás.
Eu sei que houve um momento,
antes.
Era branco.
Por onde andava, ficava rastro
de coisas que eu não via.
*poema de Depois da água, 2014, revisto/restaurado.