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domingo, 29 de março de 2020
A ninfa,
aquela que carrega as frutas
dentro da pintura.
A ninfa,
a nenúfar
de nenhum gosto
- a puro movimento -
aquela que põe ar
dentro das manhãs.
Ela veio assim
em um palácio, em Firenze
- as estátuas
com os dedos quebrados
não indicam.
Ela veio assim, em Roma
- as estátuas
de cabeças quebradas
não acenam.
Ela veio assim, em Brasília
- os passos voados
dos carros dos carros dos carros
não indicam. Porque
nada voa como no seu corpo
- o dela, que se sopra desde dentro
e flutua no momento
de braços abraçados em si mesma.
A ninfa. Não esta
- a do brasil importado
que nem ferve nem nunca
se olhou no espelho
enquanto queima
cada cor e cada tela.
Não. A outra, a de um
país por inventar, pois
sempre é outra e outra ninfa.
E é por isso que os ventos
dormem e acordam nela.
Sua presença mansa
se enfurece a cada
pequeno intervalo
na jornada
de falares e ouvires
sempre tão afetados
por nenhuma ninfa.
Poema do livro O sono de Cronos (Terra Redonda, 2019)