domingo, 29 de março de 2020


















Sei que Plotino me espera
para um encontro extraconjugal.
Plotino parado, à mão,
na mesa de cabeceira.
Traição sem ancoradouro
nem hora pra acabar
à vista do nascedouro.
Plotino é brasa, é um buraco
à guisa de fundição, fervendo
como o cobre que depois
se torna estátua.
Ele estronda
em gonzos interiores.
É de ferro, de trilho, de alça
e espada, Plotino de farda
é, sim, prata da casa:
confortável, capa verde,
varado a dedicatórias,
furtado numa feira, como
crime amaro
e amuleto.
Plotino é
todos os tesouros
(quase como Platão):
alívio das malcasadas,
cassado e posto de lado
no lodo do alto do trovão
e trovador
de porta de boteco,
rei do lero-lero,
lilás,
feminídeo e feminazi,
femeeiro, tão fodão,
Plotino à porta de todos os precipícios.
Plotino é lua de prata, patrão,
fuga e sonata para a minha boceta
- homem casado, safado,
comido a mordidas
no marco das reminiscências:
uno e vazio
como todos os cem mil.
Plotino aflito, roubando carros,
coçando o saco,
comendo restos.
Plotino é papo reto só depois das baforadas.
Tomador de porradas,
herói bastardo,
chacinado em Xingu,
filho de Xangô, estuprado,
Plotino de pele sem pelo
ou então atropelo, curado
pelos curas mais viados,
martirizado, milico,
cheio de atrito, atordoado,
Plotino um palhaço e
um puto, porco,
pedaço de nada
que nem se lê:
namorado.