Apenas nós dois, na praia.
Havia gaivotas
e algumas barracas
abandonadas.
O rio estava sujo,
as tampas das garrafas
e as latas
amontoavam-se
nas margens
do que um dia fora lindo.
Não havia paraíso,
nem nojo de mergulhar,
mergulhamos.
Você me falou
de uma conta de motel,
do seu carro estragado
depois de uns tragos,
falou disto ali,
e no meu aniversário,
quando fomos para a praia,
mais ou menos
como era antes.
Mas você não quis parar
de ser nojento, e disse:
vamos transar
aqui dentro,
venha,
meu presente para você,
minha porra, esse lixo,
misturados no mesquinho
que eu sou,
esse rio,
e eu sei que você
vai gozar.
Eu quis, claro que quis
mergulhar naquele abismo,
eu queria te engravidar,
Mas você não quis parar
de ser nojento, e disse:
vamos transar
aqui dentro,
venha,
meu presente para você,
minha porra, esse lixo,
misturados no mesquinho
que eu sou,
esse rio,
e eu sei que você
vai gozar.
Eu quis, claro que quis
mergulhar naquele abismo,
eu queria te engravidar,
ali, te mostrar seu não-homem
misturado com o meu mundo
não imundo,
o meu mistério mudo
e sem carros estragados,
e sem contas a pagar.
Gozei para me vingar.
E o meu gozo se mesclou
com a praia,
reprimi
um ‘meu querido’
e ninguém ouviu o grito.
Você saiu apressado, cansado,
todo doado de mim, enfim limpo
e feio, e gordo, como você é.
E, de repente, na volta,
tudo ficou perfeito.
Havia montanhas
e os sinos
ainda sentiam-me o peito.
Dentro do meu mistério,
foi um bom aniversário.
Subimos pela trilha,
postes em movimento.
Eu aposto que você
também gostou, arfava
pelo caminho, pedia água, balofo,
você
nem era uma pessoa.
Era um resto, agora,
um silêncio, um visco,
intempérie do caminho
com a qual eu gozava, quase sem
me mostrar o seu abismo.
Nas barracas abandonadas,
hoje, você dorme. Enjoado de si,
sem lençol. Enquanto isso,
atravesso o meu poema
para molhar o pé.
Tenho o dom das galinhas:
junto as sobras
do galo que eu quis,
e as falas dos outros,
eu jogo.
Expelido do passado
pelo meu caderninho,
você anda aflito
e sem fôlego, agora,
com o seu carro
desestragado,
com um grito
guardado num corpo
gordo e feio e já morto de frio.
Seu gozo, um rio sujo
engolido na voz.
E nunca teríamos tido
o que tivemos, um dia, e você
nem teria acontecido,
e não haveria isto, nem nada,
não fosse eu gozar sempre,
e sempre querer gozar, e você
morrer de medo
de toda essa coisa
que não teria sido
o caso, nosso caso.
misturado com o meu mundo
não imundo,
o meu mistério mudo
e sem carros estragados,
e sem contas a pagar.
Gozei para me vingar.
E o meu gozo se mesclou
com a praia,
reprimi
um ‘meu querido’
e ninguém ouviu o grito.
Você saiu apressado, cansado,
todo doado de mim, enfim limpo
e feio, e gordo, como você é.
E, de repente, na volta,
tudo ficou perfeito.
Havia montanhas
e os sinos
ainda sentiam-me o peito.
Dentro do meu mistério,
foi um bom aniversário.
Subimos pela trilha,
postes em movimento.
Eu aposto que você
também gostou, arfava
pelo caminho, pedia água, balofo,
você
nem era uma pessoa.
Era um resto, agora,
um silêncio, um visco,
intempérie do caminho
com a qual eu gozava, quase sem
me mostrar o seu abismo.
Nas barracas abandonadas,
hoje, você dorme. Enjoado de si,
sem lençol. Enquanto isso,
atravesso o meu poema
para molhar o pé.
Tenho o dom das galinhas:
junto as sobras
do galo que eu quis,
e as falas dos outros,
eu jogo.
Expelido do passado
pelo meu caderninho,
você anda aflito
e sem fôlego, agora,
com o seu carro
desestragado,
com um grito
guardado num corpo
gordo e feio e já morto de frio.
Seu gozo, um rio sujo
engolido na voz.
E nunca teríamos tido
o que tivemos, um dia, e você
nem teria acontecido,
e não haveria isto, nem nada,
não fosse eu gozar sempre,
e sempre querer gozar, e você
morrer de medo
de toda essa coisa
que não teria sido
o caso, nosso caso.