segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

IX – Polônio


Subimos as escadas
do farol
para ver a paisagem.
Os leões
ficaram lá embaixo.
Fazem xixi amarelo.
Ouvimos os gritos
soados
na era dos dinossauros.

Sua pele combina
com as pedras,
manchadas em alguns pontos
onde os leões
se aninham, nojentos.

Eu, você, sua pele combina
com o rugido dos bichos,
seus cabelos
se enredam
ao pé do vento

onde subimos
para ver a paisagem.

Você já viu tudo, e senta
no último degrau, me espera 
como uma criança
enquanto faço as fotos
que você nunca verá.

Sua face, assim, sentado
combina com o farol, no topo: 
combina o tempo todo
com esse medo de cair
se me alongo mais um pouco 
para fazer um close
no leão lá embaixo, um porco,
que urra e de repente é você 
que solta a gosma da boca
enquanto se move, um vagar,
e se ajusta na outra pedra.

Você e esse leão, tão amigos,
já viram tudo, já fizeram 
tudo o que quiseram
comigo,
já mijaram no vento amarelo,
dormiram no ponto
onde o sol se põe

e vocês combinam, sim,
já combinaram
de me ver cair,
o leão marinho
e você,
meu urso,
um urso apenas
de passagem.