O poeta, sobre a torre,
de braços estendidos,
contemplando águas
que lhe levam,
urso, homem, nojo,
até a margem do abismo,
me parece, nessa altura,
encontrar com a sua sombra
nesse bar
que nada no mistério
de gelo
das suas dunas distraídas
deslocando-se devagar
entre um raio e outro
do meu corpo.
A diferença é que você
já caiu da torre, antes mesmo
de entrarmos, os dois,
no seu rio gelado.
A sombra do homem duplo,
A sombra do homem duplo,
erigido
monumento,
há dez anos destroçado
monumento,
há dez anos destroçado
sobre os seus abismos
não faz cócegas,
não faz cócegas,
suas contas
de motel
estão pagas.
A sombra do homem
é um lapso,
montanhas sob meus pés,
de motel
estão pagas.
A sombra do homem
é um lapso,
montanhas sob meus pés,
as artérias da noite
consomem o poema
com a lembrança
consomem o poema
com a lembrança
de um corpo, entre lençóis.
E não se pode falar
"amor"
E não se pode falar
"amor"
em meio aos pássaros imprecisos
de uma pandemia
que nos rouba a manhã.
O poeta ronda
nas janelas, nos bares,
quer saber
se se samba
sobre a sua cabeça,
está preso no zoo
com cabelos maltratados,
e você o meu lapso,
você é a sombra
da moça-fantasma, Letes, Lília,
um cálculo dos problemas
nos afastaria, também,
sem rumo
e nenhum trem
que nos rouba a manhã.
O poeta ronda
nas janelas, nos bares,
quer saber
se se samba
sobre a sua cabeça,
está preso no zoo
com cabelos maltratados,
e você o meu lapso,
você é a sombra
da moça-fantasma, Letes, Lília,
um cálculo dos problemas
nos afastaria, também,
sem rumo
e nenhum trem
onde fazer as pazes.