Você é o vestígio de um vinho bom,
de um jazz, de um amanhecer
na boca.
Os pássaros
sobrevoam o mar, lá embaixo
e nós, nus,
nos levantamos
para esticar os lençóis.
Você deixa
vestígios de um vento,
um vento ameno
vem da sua janela
e se instala na pele, como respiração.
Você é a luz de fora,
o mar brilha, há um vento
amarelo e bom, o seu hálito,
há um pé de mamão maduro,
essas folhas
eu desenho com o olhar
quando dançam,
esgrimo-me e vejo o dia
a partir de você.
E é um rastro, um sol
sempre nascendo,
você adormece,
penso,
é isto
o que sobra do gozo
sobre os meus seios,
o amor, a sua solidão.
Você tem sonhos
e suspiros variados,
sempre prontos para entorpecer.
E quando o dia ainda nascia
assim, sem jazz, sem você,
havia apenas folhagem,
miragem de amarelos
sobre o mar confuso.
Mas você melhorou os vinhos
com seu jazz, sua janela em cruz
sobre a manhã que nasce
sempre que o mar secou,
e se foram todos os pássaros
para o meu passado.
Esticamos os lençóis,
e um peixe inerte
ainda salta da boca.
Não sinto o sono,
você me contaminou
com o abismo
de um eterno convalescer
para piorar de novo.
você me contaminou
com o abismo
de um eterno convalescer
para piorar de novo.